



Rana (centro) com Maia e Guida no habitat preparado pelo Santuário de Elefantes em MT
Chapada dos Guimarães (MT) – A jornada para resgate da elefante Rana, que desembarcou no Santuário de Elefantes Brasil (SEB) no último dia 21 de dezembro e a tempo de passar o Natal e a virada do ano na companhia de Maia e Guida, foi concluída com sucesso após 11 dias marcados pela emoção, muito trabalho e concentração em cada fase da operação.
Com idade aproximada entre 50 e 60 anos, Rana ganhou companhia, mais espaço, alimentação adequada e cuidados veterinários que já estão fazendo a diferença em sua nova vida.
Após planejamento detalhado, o presidente e o diretor do Santuário, Scott Blais e Daniel Moura, respectivamente, chegaram na Fazenda Boa Luz em Aracaju (SE), com cinco dias de antecedência ao embarque da aliá. O objetivo era fazer a avaliação do estado de saúde de Rana e, também, sua adaptação à caixa de transporte na qual ficaria acomodada por longo período. Na fase de adaptação, a aliá pôde entrar e sair à vontade da caixa de transporte, onde passou a ser alimentada com frutas e probióticos, além de receber atenção especial para se sentir segura com a nova equipe.
Rana, ainda na fazenda em Aracaju (SE), teve 4 dias para se adaptar ao contêiner que a levaria até o Santuário em MT
Os integrantes da jornada relatam que foram dias de muita concentração, esforço e foco nos detalhes para que desse tudo certo e o empenho de todos fosse recompensado com o sucesso da operação. Daniel Moura conta que foi emocionante a maneira como a aliá se comportou com a chegada da caixa de transporte. “Rana simplesmente adorou! Como se fosse um novo brinquedo e, durante os dias destinados à adaptação e aclimatação, ficou tocando e cheirando cada centímetro da caixa, bem como passou a maior parte dos dias dentro dela”, apontou.
Presidente do Santuário de Elefantes Brasil, Scott Blais, organiza carga de feno para alimentar Rana durante a viagem
A familiarização com a estrutura de transporte foi fundamental para a segurança da viagem. A boa adaptação e a resposta positiva da Rana para com a equipe do SEB permitiu que, após 4 dias, a caixa fosse fechada e içada até o caminhão para dar início à jornada final, rumo à sua nova e definitiva casa em Mato Grosso.
Um dos momentos mais marcantes foi o encontro de toda a equipe – veterinários, biólogos, tratadores, fotógrafos, voluntários e patrulheiros da PRF – com Rana, naquele que seria o primeiro dia do fim de seu sofrimento. “Ela se comportou como se soubesse que algo bom estava para acontecer”, diz Daniel Moura.
Caixa de transporte já com Rana é içada até o caminhão para viagem de 2,7 mil km até MT; carga pesa cerca de 9 toneladas
A equipe foi liderada pelo presidente do SEB. A veterinária do Santuário, Laura Paolillo, responsável pelo transporte, contou com apoio da diretora do Global Sanctuary for Elephants (GSE) e diretora de Bem Estar Animal do SEB, Kat Blais. Também acompanharam o resgate, à distância, o veterinário indiano especialista em elefantes, Rinko Gohain, e seus assessores no International Elephant Health.
Com apoio da PRF, equipe liderada pelo presidente do Santuário Scott Blais se despede e pega a estrada com Rana até MT
A caravana pega a estrada e Rana se despede do zoológico que a acolheu nos últimos 6 anos de sua vida, após relatos de maus-tratos ligados a antigos donos da Boa Luz. Duas patrulhas da Polícia Rodoviária Federal deram apoio durante a viagem.
Os 2,7 mil km percorridos exigiram concentração total na viagem e nas paradas feitas para dar comida e água a Rana. A equipe foi orientada a se manter sempre focada e consciente de que era necessário ter sob controle qualquer ansiedade ou excitação.
Boas vindas
Ao entrar em território mato-grossense, a aproximação com a reserva do Santuário foi, aos poucos, substituindo todo cansaço e tensão pela confiança de que a missão logo estaria concluída.
No distrito Rio da Casca, já há 8 km do SEB, crianças e adultos aguardavam a caravana para dar boas vindas a Rana
Já há 8 km do SEB, crianças e adultos moradores do distrito Rio da Casca, deram as boas vindas a Rana. A viagem segue e chega o grande momento do desembarque. Dois guinchos içam o contêiner e executam manobras precisas com a carga de 9 toneladas até que seja colocado em posição para que Rana pudesse, enfim, desembarcar dentro do galpão do Centro de Tratamento Médico.
Frutas, folhagens e montinhos de terra foram oferecidos à nova residente como recompensa pelo bom comportamento durante toda a jornada. Rana demonstrou gratidão, saboreou cada alimento oferecido e organizou um verdadeiro festival de terra e poeira, como quem faz um show para a imprensa e convidados que assistiam atentos ao desembarque.
Frutas, folhagens e montinhos de terra foram oferecidos à nova residente como recompensa pelo bom comportamento
Dupla jornada
Há pouco mais de 2 anos, em outubro de 2016, o SEB realizava o primeiro resgate de elefantes. A dupla jornada trouxe, de uma só vez, Maia e Guida para o Santuário. Saindo de um sítio em Paraguaçu (MG), onde as aliás viveram separadas e acorrentadas durante 6 longos e penosos anos, foram percorridos 1,6 mil km e, em 2 dias, as novas moradoras já estavam desfrutando de nova vida, em espaços planejados para atender suas necessidades.
Na reserva de 1,1 mil hectares predomina uma exuberante vegetação típica do cerrado mato-grossense. A área está localizada a pouco mais de 100 km do Centro Geodésico da América do Sul, cujo marco foi erguido em uma praça histórica da tricentenária Capital do Estado, Cuiabá.
Doações
Você pode fazer a diferença e ajudar nos cuidados com Rana, Maia e Guida e ser um colaborador do Santuário. A manutenção do projeto vem de doações e a contribuição pode ser feita de diversas maneiras. Acesse o link http://www.elefantesbrasil.org/doe/ e faça sua doação. (Texto: Lana Motta/Fotos: Patrícia Santos)
Momento em que Rana desce da caixa de transporte e pisa pela primeira vez na reserva do Santuário de Elefantes em MT
Rana se refresca com jato de água em sua primeira saída para o habitat das fêmeas asiáticas criado pelo Santuário