



Professor de Manejo e Conservação da Fauna Silvestre inseriu Santuário no conteúdo para alunos no 6º semestre
Cuiabá (MT) – O Santuário de Elefantes Brasil (SEB) foi apresentado aos alunos do 6º semestre de Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A apresentação, realizada em 3 de outubro, foi feita a convite do zootecnista Márcio Aquio Hoshiba, professor da disciplina de Manejo e Conservação da Fauna Silvestre.
Os estudantes, em sua maioria, disseram já ter conhecimento da existência do Santuário, mas afirmaram ter se surpreendido ao conhecer melhor o projeto e seus objetivos. Os jovens também se mostraram interessados em ajudar a divulgar a iniciativa, especialmente após verificar a maneira como as primeiras residentes – Maia e Guida – são tratadas e de como estão recuperadas após dois anos de vida no SEB.
A apresentação mostra os objetivos do Santuário, os profissionais envolvidos nas atividades de campo e nas áreas administrativas, os diretores da organização e o comprometimento de todos com a missão de salvar os cerca de 50 elefantes que hoje vivem no Brasil e países da América do Sul em cativeiros e recintos inadequados, submetidos à vaidade e exploração humana.
Em todo o contexto, Maia e Guida roubam a cena e conquistam os olhares atentos dos acadêmicos. Também se destaca na sequência de slides a antiga fazenda de gado localizada no distrito do Rio da Casa, em Chapada dos Guimarães, distante cerca de 50 km do centro da cidade e a pouco mais de 100 km de Cuiabá, a capital de Mato Grosso.
Área de preservação
Na fazenda, hoje uma reserva ambiental de 1,1 mil hectares, predomina a vegetação típica do Cerrado. A paisagem é repleta de verde e, com a alta incidência de luz e o clima tropical, parece delinear uma moldura que realça a beleza e o viver contemplativo que marcam a rotina de Maia e Guida. Assim como elas, outros elefantes também vão poder desfrutar das riquezas da região.
O professor Márcio explica que, na disciplina que ministra, tem o costume de falar sobre as unidades de conservação de Mato Grosso. “Com a visita de vocês, conseguimos esclarecer todas as dúvidas e observamos que a gente tinha uma visão, de modo geral, muito diferente do que é o projeto. Hoje conseguimos entender a importância e a essência do Santuário, principalmente para os animais, porque todo o projeto é voltado para os animais. Isso que é o mais importante, ver a preocupação que existe com a segurança e com os animais”, diz.
Durante a apresentação, diversos alunos manifestaram interesse em fazer estágio e, até mesmo, atuar como voluntários na organização. “Os alunos adoraram. Se vocês tiverem lugar, eles estão à disposição para ajudar vocês”, complementou o professor.
A estudante Maria Karolaine, 21 anos, é do 7º semestre de Zootecnia, mas quiz assistiu a apresentação. Ela confirma que conhecia o projeto antes, mas muito superficialmente. “É incrível a iniciativa e o esforço de todos os envolvidos. É uma ação acolhedora que se importa com o animal. Vi todo mundo organizado e muito centrado naquilo que faz com o objetivo de acolher os animais que já sofreram. Traz uma sensibilidade de que tem sim que cuidar dos animais”.
Maria Karolaine diz que deu pra perceber “incrivelmente” que a vida de Maia e Guida melhorou. “São animais que viviam em circo e que, antes de vir pra cá, ficaram presos em cativeiro e, hoje, estão na natureza. Vimos, também, os vídeos com elas brincando e fazendo os sons que não eram feitos antes”, diz.
Pamela Mendanha, 20 anos, é do 6º semestre de Zootecnia. Ela também diz que só conhecia o projeto superficialmente e pode se aprofundar no assunto para o trabalho que vai apresentar sobre o Santuário de Elefantes. “Percebi o movimento estereotipado que elas tinham antes e que quase sumiu. Tenho uma visão muito boa, de que elas estão bem alimentadas e são amadas. Escolhi esse tema para o trabalho no início do semestre e nem imaginava que, a uma semana da entrega, ia assistir essa apresentação. Vai ajudar muito”, diz Pamela.
A apresentação foi conduzida pela bióloga Heivanice Sehn e a assessora administrativa Cassia Motta. Ambas tiveram seu primeiro contato e relacionamento com a organização atuando como voluntárias. Com o tempo, passaram a trabalhar no Santuário.
Heivanice discorreu sobre a rotina no tratamento com Maia e Guida no Santuário. Ela também explica que a sua primeira aproximação com as aliás aconteceu, por motivo de segurança, depois de quase um ano trabalhando no local. O contato mais próximo com os animais só foi liberado pelo presidente do Santuário, Scott Blais, quando ele se sentiu seguro de que ela estava técnica e emocionalmente preparada.
“O Scott é muito criterioso e exigente com os procedimentos de segurança. Ele só permitiu minha aproximação, mesmo que separada pelas grades de proteção, que são muito resistentes e feitas com tubos de ferro usados na perfuração e extração de petróleo, quando teve certeza de que eu estava preparada para lidar com elas sem perder o foco e sem ficar deslumbrada ou distraída pelo encantamento que esses animais gigantescos produzem na gente”, afirmou.
A apresentação também discorreu sobre os conceitos, princípios e histórico do Santuário. Cassia apresentou a diretoria da organização que é presidida pelo americano Scott Blais. Todas as deliberações da presidência contam com o respaldo dos diretores Kat Blais, também americana, do norueguês Petter Granli, e dos brasileiros Daniel Moura e Ragnhild Lorentzen Long.
Além do esforço concentrado dos diretores, o trabalho no SEB é desenvolvido por uma equipe de 10 profissionais, 8 deles no trabalho de campo. Há também trabalhadores voluntários permanentes e eventuais em diversas atividades.
Na primeira abordagem, Cassia falou sobre a história de projeto, da sua evolução e de como o Santuário está estruturado atualmente. Também foram mostrados os planos de expansão da organização que não tem fins lucrativos e é mantida com a colaboração de parceiros e doadores.
O Santuário mobiliza a força de trabalho de pessoas que se sensibilizam com a causa animal, em especial dos elefantes que, após décadas de exploração, passaram a viver em zoológicos e espaços inadequados ao seu porte e necessidades. “Elefantes são animais inteligentes, que precisam de convívio familiar. É muito cruel ver a maneira como ficam, na maioria das vezes, isolados em pequenos recintos e sem contato com a natureza”, diz.
Santuário
A implantação e funcionamento do Santuário de Elefantes Brasil contam com apoio de duas instituições internacionais dedicadas a elefantes. A Global Sanctuary for Elephants (GSE) dá suporte à implantação de santuários e treinamento para tratadores. A ElephantVoices pesquisa comportamento de elefantes na natureza.
Toda a manutenção do projeto é feita com doações e a colaboração pode ser feita de diversas maneiras. A fila de espera para o Santuário tem pelo menos 9 elefantes, sendo 3 no Brasil, 1 no Chile e os demais na Argentina. É fácil contribuir e as doações, em qualquer quantia, podem ser feitas no link www.elefantesbrasil.org/doe.
Imagem vista de um dos mirantes na fazenda do Santuário de Elefantes Brasil em Chapada dos Guimarães (MT)